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09/11/2013

Não leia a bula

Esses dias me peguei lendo a bula de um remédio e, claro, me deparei com os efeitos colaterais. Como de costume, pulei essa parte e continuei lendo o que vinha a seguir. Foi então que me ocorreu que isso não deve ser algo muito comum para as pessoas, o que me leva a explicar o porquê desse meu hábito. Desde criança eu ouço da minha mãe (que é da área da saúde) que se um paciente lê os efeitos colaterais do remédio, as chances de ele desenvolvê-los aumentam. E por observação, eu via que meus amigos mais hipocondríacos (e que liam a bula) eram justamente os que tinham os efeitos colaterais. Por isso desde sempre eu leio a bula pulando essa parte. Caso eu tenha alguma coisa depois, eu verifico se aquilo fazia parte do remédio (dor de cabeça, enjoo, etc).
Se você parar pra pensar, isso serve pra tudo na vida. Se você souber que um remédio pra dor de barriga vai te dar náusea, você vai preferir continuar com a dor de barriga do que correr o risco de ficar nauseado. Se você ficar sabendo que aceitando determinado trabalho você corre o risco de assédio ou de intrigas no escritório, melhor procurar outro. Se você conhece alguém novo e fica sabendo que a pessoa é fofoqueira, vai preferir não se relacionar com ele ou ela. Se você ficou afim de um cara e depois soube que ele traía a antiga namorada, vai pensar mil vezes antes de querer ficar com ele. Às vezes a gente confia até na fonte mais desconfiável (ex-funcionário do escritório, uma amiga que é na verdade a fofoqueira em questão ou até uma ex que não superou o término) só porque ela apresentou algum risco que você poderia vir a encontrar. E se você já sabe do risco, seria insano mergulhar de cabeça nisso, correto?
A verdade mesmo é que tudo tem seu risco, mas a decepção não é necessariamente algo ruim. Pelo menos não se você tentar enxergar o outro lado. Em algum momento você pode se decepcionar com a carreira, com a amiga ou com o namorado. Essas coisas acontecem. O que não dá é pra evitar esses desapontamentos, porque eles aparecem subitamente quando menos esperamos. Mais importante ainda: eles aparecem pra gente aprender e crescer.
Um obstáculo deixa de ser um obstáculo quando você o transforma em degrau. Aprender a lidar com um amor que te traiu faz você escolher melhor quem quer por perto. Descobrir que sua confidente é, na verdade, agente duplo te ajuda a enxergar melhor as pessoas. Confrontar-se com o fato de que seu mentor profissional é um babaca pode te levar pro rumo certo (pelo menos até você encontrar o outro certo). E você aí, querendo a segurança de uma bula pra poder evitar essas dores.
Os efeitos colaterais da vida não são só pra te fazer sofrer ou pra incomodar. São pra te ajudar a ser uma pessoa melhor. Aceite o remédio da vida e jogue fora a bula. Abrace as oportunidades, aprenda com elas, viva.
Texto por Luisa Clasen (Lully de Verdade)
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xoxo

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